Edivaldo Magro
Não se contesta que Maringá é uma bela cidade, com vistosos indicadores econômicos e sociais, mas é preciso dispensar olhar atento e cuidadoso para aspectos que impactam o cotidiano das pessoas, como limpeza pública, arborização, cuidados com praças e áreas verdes, para ficar apenas em elementos táticos da vida em comunidade. No âmbito estratégico, a cidade precisa pensar a mobilidade, o transporte público, a população em vulnerabilidade social, como moradores em situação de rua, os índices de criminaidade, a geração de emprego.
O enfrentamento e a oferta de soluções para manutenção dos indicadores que orgulham a cidade e alimentam o ufanismo não exige apenas aplicação de políticas públicas e dispêndio de recursos, mas inovação na percepção da urbe como elemento vivo, que demanda cuidado e carinho. Nesse contexto, o gestor público, definição que alcança prefeito, secretários, vereadores e todo o conjunto da administração municipal, precisam convergir para o entendimento de prioridades e não se deixar iludir por delírios, como a prainha do prefeito Ulisses Maia.
O prefeito eleito, Silvio Barros, tem repetido em seus vídeos de apresentação de secretários que existe ‘alta expectativa’ em relação ao futuro governo. Contudo, ele próprio não se comprometeu durante a campanha com nenhum objetivo mais inovador ou grandioso, limitando-se a soluções tecnológicas para diversas áreas, como trânsito e segurança. Aliás, tecnologia é palavra recorrente no discurso do prefeito eleito, que pouco falou na campanha sobre a necessidade de retomar os debates sobre o planejamento da cidade.
A história de Maringá está associada ao planejamento, desde que o município foi pensado nas pranchetas do arquiteto Jorge de Macedo Vieira, nos primeiros anos da década de 1940, a partir de rascunhos dos diretores da Companhia de Terras Norte do Paraná, Cássio Vidigal e Gastão de Mesquita Filho. Ao longo dos seus 77 anos, desde a emancipação em 1947, a cidade pautou sua expansão urbana com algum cuidado, rendendo-se a interesses econômicos em diversos momentos de sua história, mas sempre atenta a organização da ocupação espacial.
Retomar o debate sobre o futuro da cidade passa pela interlocução com entidades representativas da sociedade civil organizada, conexão desprezada e perdida pela atual gestão, especialmente com a Associação Comercial de Empresarial de Maringá (Acim). Dentro da entidade surgiu a última grande mobilização para organizar o desenvolvimento da cidade. O movimento ‘Repensando Maringá’ está na raiz de avanços relevantes, em que pesem as contradições da iniciativa, com repercussão inclusive no destino político da cidade.
Maringá precisa liderar, de fato, a integração regional
Todos os dia, cerca de 30 mil pessoas deixam suas casas em Sarandi para trabalhar em Maringá. O deslocamento dessa massa de trabalhadores ocorre a bordo de ônibus e veículos por um gargalo, criado no limite das duas cidades, onde começa o Contorno Norte, grande obstáculo ao fluxo de veículos e onde se verificam retenções enormes pela manhã e à tarde.
O prefeito eleito, Silvio Barros, já se comprometeu em resolver o problema, mas é necessário olhar o entorno de Maringá para além dos problemas de mobilidade e discutir o desenvolvimento regional a partir da liderança da cidade. Nesse contexto, é fundamental repensar a região metropolitana.
Criada há 26 anos, a Região Metropolitana de Maringá (RMM) mais que dobrou de tamanho nesse período, rompendo com o padrão existente em outras em composições semelhantes país afora. Com essa configuração, as ações coletivas para solucionar problemas comuns não só perdem força, mas inexistem.
Em 1998, quando a RMM foi instituída por lei, era formada por Maringá, Ângulo, Mandaguari, Iguaraçu, Mandaguaçu, Paiçandu, Marialva e Sarandi. Em 2002 foi incorporado o município de Floresta, em 2005 mais sete, em 2010 outros 10 e em 2012 Nova Esperança reforçou o grupo. Hoje, ela é composta por 27 cidade.
A formação original era convergente com modelo tradicional, que valorizava a proximidade de municípios para buscar soluções para problemas comuns nas mais diversas áreas, como mobilidade, transporte coletivo, saneamento, segurança e saúde, entre outros. Na prática, a teoria nunca foi aplicada.