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ou mais tarde. Leia como Depurar o WordPress para mais informações. (Esta mensagem foi adicionada na versão 6.7.0.) in /home/paranada/public_html/wp-includes/functions.php on line 6114
A madrugada do dia 18 de julho de 1975 foi de insônia para milhares de agricultores paranaenses. Assombrados pela geada que nos anos anteriores já havia provocado estragos nos cafezais, a maioria dos produtores passou a noite em torno do fogão a lenha, apreensivos.
Lá fora a temperatura despencava e cafeicultores experientes temiam pelo pior. O calor do fogo não esquentava a frieza da realidade: geava! A intensidade do frio era tamanha que o crepitar da lenha no calor do fogão não dava conta de aquecer o ambiente. Desespero.
Não pelo frio implacável que não recuava mesmo no aconchego das casas, mas pela devastação que provocava nos campos. O amanhecer daquela sexta-feira ficou na história da economia do estado. A geada devastara quase um bilhão de pés de café, torrando as plantas da copa à raiz.
Ao sobrevoar lavouras na região de Londrina e Maringá, o então governador do Estado, Jaime Canet, definiu o estrago com uma frase: “está tudo perdido!”. Diferente de outros anos, quando a geada atingiu apenas algumas regiões, desta vez o frio não fez distinção: queimou tudo.
Junto com o café se foi o trigo e outras lavouras. Extensas plantações viraram lenha e onde antes se sobressaía o verde agora prevalecia um imenso deserto de plantas esqueléticas. Cafeicultores que testemunharam a tragédia lembram-se do cheiro de folhas queimadas.
O Paraná, que em anos mais prósperos chegou a responder por 28% da produção mundial, da noite para o dia foi riscado do mapa da cafeicultura. No ano seguinte, a saca de café beneficiada bateu nos US$ 500. O mercado internacional repercutiu o drama paranaense.
A geada virou fato histórico e a perplexidade dos produtores, derrotados pelo clima, impôs reflexão sobre o futuro do Estado. A extinção do café redesenhou a economia paranaense em meio ao desespero de agricultores, até então reféns de uma monocultura exercida sem muitos critérios técnicos.
Sabe-se hoje que a devastação poderia ter sido menor se os cafeeiros não fossem tão altos e plantados sem a preocupação com a altitude, além da densidade (número de plantas por hectare). A fertilidade da terra bastava e as pesquisas agrícolas ainda engatinhavam de forma muito precária.
Apesar das consequências do episódio, como o êxodo rural, que tirou do campo milhares de trabalhadores e os levou para a periferia da cidade e, em muitos casos, para a miséria, a geada de 1975 é apontada como um importante divisor de águas para o fortalecimento da economia do Estado.
Até então, prevalecia a monocultura do café. Outras lavouras, como trigo, milho, algodão e feijão, ocupavam pouco espaço, a ponto de ser quase insignificante no contexto da economia agrícola do Estado. A soja, cujo plantio comercial se iniciou no Paraná na década de 50, também não era expressiva.
Esse cenário mudou drasticamente a partir da segunda metade de 1970. A erradicação do café estimulou o plantio de outras culturas e investimentos em pesquisas reforçaram a chamada ‘revolução verde’ no campo, um movimento iniciado algumas décadas antes no mundo para fortalecer a produção de grãos.
Uso mais intensivo de adubação, manejo adequado da terra e plantio de variedades precoces e mais tolerantes a pragas transformaram a agricultura paranaense em exemplo e já no início dos anos de 1980 a cafeicultura, como referência da economia do Estado, era apenas lembrança e história.
O cafeeiro morre, em média, quando submetido a -3,5 graus. Em 1975, estima-se que, em algumas regiões, a temperatura caiu para -6 graus. O resfriamento extremo do solo causou congelamento do sistema radicular, ocasionando a morte das plantas.
Existem dois tipos de geadas: a branca e a negra. A geada branca é formada quando o ar está relativamente úmido, com o ponto de orvalho acima da temperatura de congelamento. Havendo o abaixamento da temperatura, poderá haver deposição de gelo, ou as gotículas de orvalho que estão sobre a superfície das plantas poderão se congelar, dando formação à geada branca. A geada negra aparece quando há o abaixamento da temperatura, mas o ar está com pouca umidade, não havendo formação de gelo
O perfil da cafeicultura no Paraná mudou muito desde o início dos anos de 1980, quando as pesquisas avançaram não apenas na apresentação de novas variedades, mais resistentes ao frio, mas também com a adoção de práticas mais modernas de manejo das lavouras. O processo de evolução da cultura veio a partir do impacto das geadas da década anterior, que dizimou cafezais e mudou a história da economia do Paraná.
Apenas como referência, até o final dos anos de 1960, o Paraná plantava cerca de 1,6 milhão de hectares e chegou a contribuir com 28% da produção mundial do grão. De um dia para o outro, essa imensidão de verde foi reduzido a um cenário de devastação. Frio intenso queimou cafeeiros da copa à raiz, não deixando margem alguma para rebrota, como já ocorrera antes. Mas a cafeicultura renasceria num futuro próximo.
Hoje, o Paraná planta cerca de 40 mil hectares de café, mas os produtores aprenderam não a domar o clima, mas respeitá-lo. Na verdade, essa convivência está associada a técnicas modernas de plantio e manejo, utilizando-se novas variedades, menos sujeitas às oscilações climáticas, especialmente o frio. Se perdeu em volume, o café paranaense ganhou em qualidade. A região Norte do Estado tem relevância nacional.
As técnicas de plantio adensado e superadensado, na prática, maior número de pés plantados por hectares, com redução de espaço entre covas e linhas, estão entre as alternativas adotadas para aumentar a produtividade, proteger o solo e estabelecer barreiras mais seguras contra frio extremo, aquela oscila negativa de temperaturas com efeitos danosos para os cafeeiros. O modelo foi desenvolvido exatamente para compensar a redução de área plantada.
Com a erradicação dos cafeeiros após a geada de 1975, se seguiu rápida a conversão das lavouras para a monocultura de soja e milho. Com isso, latifúndios avançaram e a consequência imediata foi o êxodo rural. A mecanização da colheita expulsou o homem do campo e inchou as periferias da cidade. Retomar a cafeicultura se impôs também como resposta a essa migração. Mas a proposta nunca funcionou de fato, até pela redução da área plantada.
A economia se redesenhou e os cafeicultores tornaram-se ainda mais especializados. Plantam menos, mas investem em grãos mais diferenciados, resultados de tratos culturais mais intensos e cuidados, a partir de variedades também mais resistentes a pragas. Importante destacar que cafeicultor é um tipo diferenciado de produtor, considerando as exigências da cultura e pelo seu apego à lavoura que, diferente de outras, é perene, ou seja, a terra está sempre coberta de verde.