Ricardo Barros: No epicentro de polêmicas a sua liderança é testada

No epicentro de polêmicas, Ricardo Barros vê testada, mais uma vez, sua liderança política

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No epicentro de polêmicas, Ricardo Barros vê testada, mais uma vez, sua liderança política

Cleia Viana/Câmara dos Deputados

No epicentro de polêmicas, Ricardo Barros vê testada, mais uma vez, sua liderança política

 

Acuado por indícios, acusações e investigações, o deputado federal Ricardo Barros vive  o pior momento de sua longa carreira política. Há quem diga que sairá fortalecido, considerando sua notória capacidade de superar as contradições de sua trajetória e seguir em frente. Outros apostam que terá dificuldade para se reeleger em 2022, seja lá qual for o desfecho dos imbróglios nos quais está envolvido. De certo é que o parlamentar é notória liderança política com biografia que merece respeito.

 

O esperado depoimento na CPI da Pandemia, onde vai se explicar sobre suposta citação do seu nome pelo presidente Jair Bolsonaro, no momento em que foi informado por servidor de suspeitas nas negociações para compra de vacina, é fundamental para salvar sua biografia e futuro político. A acusação da Receita Federal, de que o parlamentar montou engenhosa estratégia para ocultar operações financeiras e ocultar R$ 2,2 milhões entre 2013 e 2015, também pesa contra o parlamentar.

 

Não é incomum que carreiras políticas alcancem o teto depois de três décadas de vida pública. Há exceções à regra, mas cumprir mandatos a partir dessa fronteira temporal exige cada vez mais esforço. Primeiro, para obter sucesso nas urnas. Depois, para preservar o cargo eletivo intacto dos ataques ocasionais  –  e outros contínuos. Trajetórias políticas longevas significam também vivência de muitos episódios, alguns não adequados para constar na biografia. 

 

A trajetória política do deputado federal Ricardo Barros é repleta de fatos pitorescos, entre eles uma suposta fuga pela janela de seu gabinete para evitar confronto com grevistas. Isso teria ocorrido durante seu mandato como prefeito de Maringá (1989/92). Azarão na disputa, venceu aproveitando-se da acirrada briga entre João Preis, então secretário de Indústria e Comércio, candidato do prefeito à época, Said Ferreira, e o empresário Ademar Schiavoni.

 

Diversos episódios desgastaram a relação com  Said Ferreira

 

A vida pública começou antes, em 1985. Engenheiro civil, foi nomeado diretor-técnico da Urbamar, empresa de economia mista que foi encarregada das obras de transferência do pátio de manobras da rede ferroviária do centro para a periferia. Durante sua gestão, diversos episódios desgastaram sua relação com o prefeito Said Ferreira, como a licitação para execução da obra de rebaixamento da linha férrea para viabilizar o surgimento do que seria o Novo Centro, e a contratação do arquiteto Oscar Niemeyer. 

 

A licitação, vencida pela Construtora Mendes Júnior, desagradou empresários locais do ramo, até porque o modelo da disputa definido pelo município inviabilizava a participação. O contrato previa que a empresa deveria executar as obras com recursos próprios, recuperando o investimento com a comercialização de unidades comerciais e residenciais que seriam construídas na área. O tamanho do capital necessário para tocar o projeto tirava do páreo as construtoras locais. 

 

O arquiteto Oscar Niemeyer esteve em Maringá para apresentar sua perspectiva para ocupação do espaço de 600 mil metros quadrados chamado ‘Projeto Ágora’, referência aos espaços comerciais a céu aberto da Grécia antiga. A área seria ocupada por torres de escritórios e apartamentos residenciais, numa projeção futurística que impressionava pela grandiosidade. O projeto nunca prosperou, assim como o contrato com a Mendes Junior. O Ágora virou Novo Centro, ocupado hoje por uma profusão de prédios.

 

Ricardo Barros deixou a Urbamar atritado com Said Ferreira e lançou-se candidato a prefeito pelo PFL, vencendo as eleições. “A vitória se explica por vários motivos: ele soube se apresentar como alternativa política, se aliou a ideia de renovação com a tradição, evocando a memória política de seu pai, o ex-prefeito Silvio Barros, e foi o candidato que soube utilizar com mais eficiência os modernos recursos do marketing político e a televisão”, explica o historiador Reginaldo Benedito Dias.

 

 Gestão na prefeitura foi marcada por inovações e polêmicas

 

Aos 30 anos, tornava-se o prefeito mais jovem do Paraná e faria um mandato de avanços, mas também de polêmicas. Sugeriu a mudança da capital do Paraná para Pitanga, alinhando ideia defendida pelo historiador David Carneiro; contratou o estúdio Maurício de Souza para desenvolver histórias com o Ingazinho, personagem que seria o porta-voz da cidade em milhares de gibis que nunca foram distribuídos; e propôs a criação de cooperativas para gerir creches e unidades de saúde. 

 

O mandato também foi marcado por aumento de impostos, entre eles o IPTU, em um momento de grave crise econômica. Amigos e financiadores de campanha teriam sido beneficiados com descontos do imposto predial, o que ficou conhecido como ‘Tenda dos Milagres’. Ricardo Barros garantiu o apoio na Câmara de Vereadores com a formação do ‘grupo dos 13’, formado por parlamentares alinhados com o Executivo. Salvou-se de um processo de cassação exatamente graças a esse grupo

 

Deixou a prefeitura em 1992 sem conseguir fazer o sucessor. Seu candidato, Miro Falkembach, foi derrotado pelo ex-prefeito Said Ferreira, então deputado federal. “A eleição municipal de 92 talvez tenha sido a mais previsível da história até então, pois o ex-prefeito Said Ferreira liderou as pesquisas de intenção de voto do início ao fim, com larga vantagem sobre os concorrentes, vindo a ser eleito com 56% dos votos”, relata o historiador Reginaldo Benedito Dias. 

 

Eleito em 1994 para o primeiro mandato com 54.049 votos, obteria sucessivas reeleições, ampliando o número de votos: 68.919, segundo mandato, 118.036 (terceiro), 130.855 (quarto), recuando no quinto para 114.396 e mais ainda no sexto: 80.025. Em 2010 foi candidato ao Senado, obtendo 2.190.539 votos. Tornou-se figura de relevo na Câmara dos Deputados, assumindo cargos de vice-líder ou de líder dos últimos governos, além de ocupar o cargo de ministro da Saúde, entre 2016 e 2018.

 

No jogo político, parlamentar movimenta peças sempre com habilidade

 

Sob sua mesa, no escritório que mantém há décadas no mesmo local em Maringá, um tabuleiro de xadrez é ilustrativo da capacidade de jogo do parlamentar, a quem recorre veteranos e iniciantes na refinada arte da política. Não por acaso o prédio é conhecido como ‘Posto Ipiranga’, referência a peça publicitária que recomenda o local para solução dos mais diferentes problemas. Ricardo Barros faz por merecer a liderança reconhecida na cidade. Elegeu o irmão prefeito para dois mandados e fez o sucessor dele. Cravou a filha na Assembleia Legislativa e a mulher foi deputada estadual, federal, vice-governadora e governadora. 

 

Ricardo Barros é nome associado às principais obras da cidade, como Contorno Norte, novo terminal urbano e reforma do aeroporto regional, só para ficar em algumas, de uma extensa relação que liga o parlamentar a recursos viabilizados junto ao governo federal. Do projeto Ágora, engavetado na década de 1990, resgatou-se prédio majestoso que será erguido junto ao terminal urbano para ser a nova biblioteca da cidade. Os recursos para a obra já foram garantidos pelo deputado federal, que também assegurou a construção do Hospital da Criança e do Hospital da Mulher.

 

É imprevisível o desfecho da situação em que Ricardo Barros foi posicionado e, em função disso, está no centro de polêmicas, mais uma das muitas que enfrentou ao longo da carreira, sempre encontrando uma saída honrosa. Parece que agora as baterias se concentraram no centro de sua resistência política, expondo o parlamentar a atenção milimétrica da mídia e mais ainda aos interesses que gravitam sua derrocada. Mais do que um político empurrado para dentro da CPI da Covid como investigado, Ricardo Barros enfrenta inimigos políticos que articulam sua derrota.

 

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