Governadores e prefeitos iniciaram disputa para ver quem vacina primeiro toda a população de seus estados e municípios. Eles não estão autorizados a adquirir vacinas, mas mesmo assim confiam que a promessa de imunizar toda as faixas etárias permitidas (menores de 18 anos ainda não podem tomar a vacina) será cumprida até final do ano. No Paraná, o governador Ratinho Junior se comprometeu em aplicar a primeira dose da vacina em todos os paranaenses até 30 de setembro. Prefeitos das grandes cidades do estado embarcaram na promessa e garantiram vacina para todos até final do ano. Vacinação em alta.
Os chefes dos poderes executivos municipais e estaduais do Paraná confiam que o governo federal vai manter o cronograma e continuar a abastecer as unidades federativas com remessas periódicas de vacinas. A contabilidade dos últimos meses não sustenta essa confiança. O ritmo de vacina oscila, com o volume de doses prometidas sendo avaliado a cada período pelo Ministério da Saúde. O problema não está na decisão de compra, mas na capacidade de entrega dos fornecedores. Quando não há dificuldade em adquirir a vacina pronta, há obstáculos na aquisição de matéria prima para fabricação do imunizante, o que ameaça a promessa de prefeitos e governadores.
Bom exemplo disso está na estimativa do Ministério da Saúde de adquirir 36,9 milhões de doses da AstraZeneca em agosto. Contudo, a Fundação Oswaldo Cruz só deve entregar imunizantes fabricados a partir de um ingrediente farmacêutico ativo (IFA) 100% nacional em outubro, a entrega pode não ser como esperado se houver novos atrasos na importação da matéria-prima da China. Hoje, o país só produz a vacina com o insumo importado. A Pfizer deve entregar 20 milhões de doses ao país até julho, de um contrato de 200 milhões de doses contratadas.
O critério de distribuição de vacinas por municípios segue uma lógica complicada, baseada no censo demográfico, ou seja, considera o número de habitantes por faixas etárias. O Paraná, como definiu o Ministério da Saúde, recebe 5% das vacinas que o país adquirir ou produzir. Inicialmente, a previsão do governo paranaense era imunizar cerca de 4 milhões de pessoas até maio, mas esse número já foi superado. As pessoas com mais de 60 anos são o grupo mais alcançado pela campanha de vacinação e respondem por 84% das doses aplicadas no estado. Já foram imunizados 2.911.102 idosos.
Não há margem para relaxamento das medidas de prevenção, como uso de máscara e distanciamento social, mesmo após vacinação, o que inclui a segunda dose, como tem alertado a Organização Mundial de Saúde (OMS) . A contradição entre o aumento do número de vacinados e de pessoas que positivam para o vírus, com agravamento de sintomas, necessidade tratamento intensivo e morte, não é um paradoxo. A segurança só vai existir quando pelo menos 70% da população estiver vacinada, o que vai criar ambiente pouco menos vulnerável à replicação do vírus.
A sensação de falsa segurança após a primeira dose, por exemplo, potencializa a transmissão do vírus e talvez explique a contradição. A chamada ‘imunidade por rebanho’, conceito baseado na teoria que quando uma porcentagem suficiente da população é imune ao vírus, se cria uma barreira de proteção que protege do vírus o resto. Mas o país, o estado e o município estão longe desse cenário e uma dose da vacina não garante segurança absoluta. Portanto, é fundamental a manutenção das medidas preventivas.