Produtos orgânicos à mesa ainda estão longe de virar uma realidade para boa parte dos brasileiros. O maior consumo de alimentos orgânicos vem de quem se deu conta de que uso intensivo agrícola pode representar risco à saúde. Além deste quesito, outra grandeza relevante na equação das pessoas que não compram este tipo de produto é o preço.
O produto orgânico, até pelo processo mais demorado entre o plantio e a colheita, custa mais. Mas talvez não seja esse o aspecto que ainda mantém baixo o consumo. Tem algo cultural nesse hábito, até por conta da convicção de que defensivos agrícolas na produção hortícola podem não ser tão nocivos assim.
Não é isso que diz a Organização Mundial da Saúde (OMS). Pelo menos 20 mil pessoas morrem todos os anos vítimas dos efeitos diretos e indiretos dos agrotóxicos. O Brasil é o país que mais utiliza defensivos químicos, exagero proporcional à competência do país no agronegócio, com liderança na produção de grãos e proteínas.
Em média, todos os anos o país despeja 500 mil toneladas de agrotóxicos nas lavouras para garantir proteção contra pragas e a manutenção da produtividade. Nesse cenário, dois problemas são apontados como graves: permissão de produtos já banidos em outros países e venda ilegal de agrotóxicos.
A exposição aos agrotóxicos pode causar uma série de doenças, dependendo do produto que foi utilizado, do tempo de exposição e quantidade de produto absorvido pelo organismo. A proximidade de concentrações urbanas de áreas rurais potencializa os riscos de inalação, por exemplo.
A aplicação de agrotóxicos nas lavouras seria uma necessidade, considerando o contínuo aumento da demanda por alimento no mundo. Sem o uso de produtos químicos, seria impossível colocar comida na mesa de uma população de 7,5 bilhões de pessoas.
Os pesticidas evitam perdas pelo ataque de pragas e doenças ou pela competição de plantas daninhas, que reduzem a produtividade. Perder essa eficiência é um retrocesso em todos os aspectos, inclusive ambiental, pois cria a demanda por uma maior expansão de áreas agrícolas.
Defensores do meio ambiente acreditam ser possível aumentar a produção de alimentos com mais investimentos em tecnologia. Outro argumento diz respeito à comida que chega na mesa do cidadão, que sai das pequenas propriedades onde o uso de defensivo não é tão intensivo. Grãos, como soja e milho, acabam no mercado externo.
Os investimentos na agricultura familiar ainda são muito inferiores aos destinados ao agronegócio empresarial. Enquanto o primeiro grupo recebe cerca de R$ 30 bilhões anuais, o segundo abocanha R$ 250 bilhões. Reduzir essa diferença seria fundamental para estimular o aumento da produção nas pequenas propriedades.
Este ano, como parte das medidas de enfrentamento da pandemia, o governo do Paraná disponibilizou R$ 500 milhões para estimular a agricultura familiar e pequenas cooperativas. Os recursos alavancam investimentos em diversas atividades agropecuárias, além de promover inovação tecnológica.