A face mais visível da pobreza não é a fome; é a invisibilidade. É o cidadão miserável não ser visto ou pior: ignorado! Estica a mão num gesto de apelo e recebe a indiferença como esmola. A rede de proteção social é grande, de malhas finas, mas já não suporta o tamanho do cardume, que cresce alimentado pelo desemprego e a falta de perspectiva. E só piora com o horizonte da normalidade cada vez mais distante. A suposta retomada da economia ainda está sujeita ao controle da pandemia. Enquanto isso, não é só a fome que assusta. É a falta de esperança, um sentimento que sufoca e oprime. O clima de apreensão reforça: vivemos num mundo assombrado por demônios!
Eu não acredito em assombração, mas sei que elas existem. E se movimentam de forma sorrateira, nas sombras, provocando mais medo que susto. A gente vê quando quer, ou melhor, quando não quer. Alguns ganham dimensão física. Feias, mas espertas, sentam sempre na primeira fila. Quando não ocupam o palco.
Tratados com desprezo e até culpa por multiplicar o vírus (ou contribuir para isso), o setor de eventos amarga período de luto, não só pelas mortes provocadas pela pandemia, mas também pelo infortúnio de tantos negócios tragados do mercado por decretos restritivos nem sempre alicerçados em pareceres técnicos.
Transporte coletivo lotado pode. Mesa na calçada não. Esse é apenas um dos muitos exemplos que ilustram a percepção, senão equivocada, ao menos míope na adoção das medidas restritivas. A compreensão da pandemia oscila entre erros e acertos, enquanto o número de casos e mortes se mantém elevado.
Os ônibus que fazem o transporte interurbano continuam transitando com lotação acima do que seria razoável, considerando os riscos de contágio. A fiscalização inexiste e os cuidados preventivos menos ainda por parte das empresas que exploram o serviço. Usuários viajam com um pé de coelho em uma mão e o terço na outra
E a corrida da vacina continua, não na velocidade para alcançar a meta de imunização total, mas na determinação de garantir protagonismo político do ‘primeiro a chegar’. Enquanto isso, pouco ou nada se faz para insistir na importância da prevenção, como uso de máscara e distanciamento social. Uma picada não dói, mas também não protege.
Israel é a prova de que a vacinação está longe de ser a solução definitiva para a pandemia, ainda que seja a única. Mesmo depois de imunizar quase toda a população com a segunda dose da vacina, o país voltou a exigir o uso de máscaras. Tudo por conta da variante Delta, mais contagiosa e mortal. No Paraná, a mutação está presente desde o início de junho.
O governo estadual continua a investir no reforço da infraestrutura de atendimento, considerando que os números da pandemia não se estabilizam. São 4.987 leitos exclusivos para covid-19 em todo o estado – 2029 de UTIs e 2958 de enfermaria. As taxas de ocupação são de 93% e 72%, respectivamente.